quarta-feira, 14 de março de 2012

Encontro do dia 11/03/12

Foi a integrante Clarissa Franchi quem conduziu as práticas. Fizemos um alongamento e uma leitura coletiva do texto O Quarto Ausente, de Heloísa Cardoso. Depois, executamos um exercício que consistia em concretizar corporalmente, de forma estática, as imagens que o texto sugere.
A – Eu não fui.
B – Você escolheu não ir.
A – Ele escolheu que eu fosse.
B – Você escolheu ficar.
A – Eu não tive escolha.
B – Essa espera me deixa ansiosa.
A – Essa espera me deixa angustiada.
B – A angústia nos faz engolir pedaços de nosso próprio corpo.
A – Eu roí minhas próprias unhas.
(Silêncio.)
B – Eu comi meus próprios olhos.
B – Sinto que há algo de errado com nossas estratégias.
A – Com nossos planos.
B – Com nossos esquemas.
A – Com nosso mecanismo.
B – Com nosso sistema.
A – Eliminação sistemática de nós mesmas.
Depois, com ajuda de estímulos sonoros, estas imagens congeladas ganharam movimento em nossos corpos. Diante desse exercício, a integrante Raquel Médici, que relacionou-se quase o tempo inteiro com a porta de vidro da sala de ensaio, fez uma observação importante: A caixa de vidro (elemento importante no texto) que prende A pode ser vista como PROTEÇÃO e não como BARREIRA.
Após esta "apropriação corporal" do texto, nos dividimos em dois subgrupos e cada um dos subgrupos criou uma rápida cena que sintetizasse a fábula da peça, sem preocupação com falas, personagens ou rubricas. A partir disso, criamos duas cenas:
I
Atrizes: Camilla Martinez e Heloísa Cardoso 
Argumento: Duas mulheres distraídas com ações cotidianas deparam-se com uma espécie de portal. Uma delas atravessa o portal e seu corpo e sua lógica são alteradas. A outra atravessa e é alterada da mesma maneira. As duas tentam atravessar o portal de volta ao mundo real, mas não cabem na passagem ao mesmo tempo. Brigam fisicamente para conseguir entrar, mas acabam desistindo, cansadas, permanecendo neste " novo mundo."
Impressões: Quando uma pessoa é afetada na alma, ela não consegue voltar inteira para o mundo anterior, é como se ela não coubesse mais no caminho de volta. É necessário voltar em fragmentos. A passagem de um mundo para o outro pode ser também uma passagem da menina para a mulher. A passagem também pode ser interpretada como um homem: Ambas passam por ele e depois competem para entrar dentro dele novamente. O embate é físico, é concreto. Depois da passagem, tudo destruiu-se, ficou ruim, caótico. Esse mundo caótico lembra "Alice no País das Maravilhas", mas as mulheres presas nele revelam imagens de orgasmo. Portanto, a passagem pode significar também a perda da virgindade, o prazer, e depois a busca interminável por mais prazer. A mulher que entra no mundo primeiro espera que a outra surja com algum tipo de acesso ao mundo real. Mas ambas ultrapassaram um limite e agora não conseguem voltar inteiras à normalidade.
II
Atrizes: Lia Maria e Raquel Médici
Argumento: Uma mulher em pé e outra sentada. Elas esperam eternamente, com o olhar focado e o corpo aceso.
Impressões: A eterna espera de A e B é pelo homem ou por C, a mulher que vem salvá-las? Elas esperam por uma fato muito urgente: O assassinato do "quarto elemento". Esta espera não é aleatória e inativa. Trata-se de uma obsessão. As personagens não perdem o foco, apesar de todas as dificuldades.

Após breve discussão sobre as duas cenas, concluímos que espera, foco, obsessão, virgindade, proteção, passagem e dificuldade são palavras-chaves para o desenvolvimento de nosso estudo.

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