sexta-feira, 30 de março de 2012

Encontro do dia 25/03/12


Foi a integrante Heloísa Cardoso quem conduziu as práticas. Fizemos outra leitura do texto O Quarto Ausente, mas dessa vez com foco na trajetória de B. Todos os exercícios propostos em seguida vieram a partir dessa personagem.

Luz. Além da mulher na caixa de vidro, outras imagens são reveladas: Manequins espalhados pelo palco e uma segunda mulher, B, vestida com serpentinas, e com uma barra de ferro cobrindo seus olhos. Ela baila com os manequins, feliz e cega, ao som de uma música melancólica. Ao encontrar a caixa de vidro, B encosta-se a uma de suas laterais e senta-se. A música perde volume até parar.
Escuro.

O primeiro exercício foi baseado na técnica de manipulação física que Heloísa Cardoso aprendeu no Physical Manipulation Workshop, ministrado por Clea Wallis e Paul Rous (integrantes do Dudendance Theatre– Escócia). O exercício funciona da seguinte maneira: Fitas são amarradas nas articulações de uma das integrantes do grupo. Ela fica deitada, de olhos fechados, com o corpo completamente relaxado. As outras integrantes, usando as fitas, manipulam a atriz até que ela consiga levantar-se do chão. Ao ficar em pé, a integrante passiva, aos poucos, ganha uma intenção, abre os olhos e torna-se ativa, tentando caminhar até um local determinado (no nosso caso, escolhemos um pequeno armário como ponto de chegada). A partir do momento em que ela ganha força, as outras integrantes agem com uma força contrária, impedindo que ela alcance seu objetivo (o pequeno armário, no nosso caso). As integrantes podem possibilitar momentos de relaxamento e momentos de tensão à integrante aprisionada. Ela persiste até conseguir.


Depois, a integrante deve recriar, sozinha, toda a trajetória que seu corpo percorreu, enquanto as outras assistem.

Durante o exercício, todas as integrantes passaram pela função de manipuladoras e de manipuladas.  Para entender B, é importante experimentar o que (e como) é ser manipulada. Porém, como manipuladoras, as atrizes atingiram uma energia diferente – Algo próximo dos manequins que aparecem no texto, talvez.
Esse exercício nos proporcionou imagens de “liberdade violenta”. Havia uma brutalidade e uma dor quando as atrizes tentavam se libertar. Foi interessante perceber as escapatórias que as atrizes inventaram para atingir seus objetivos. A integrante Lia Maria, por exemplo, ao perceber que as integrantes não permitiriam a movimentação de seus braços, alcançou o armário com uma das pernas, e, ainda por cima, abriu a porta do armário com o pé. Isso, automaticamente, transformou em símbolo um trecho do texto:

A – Você tem razão. Nós somos inteligentes o suficiente para não abrir as portas para um assassino.
B – Nem as portas, nem as pernas.
A – Foi um quarto elemento cuidadosamente selecionado. Não havia possibilidade de falhas.
B – Não foi falta de cuidado.
A – Ele era nosso a cada sonho.
B – Ele fazia doer cada ossinho.
A - A garganta era um nó.

Já o segundo exercício funcionou da seguinte maneira: Havia um quadrado no meio da sala, com rolos de fita de cetim e uma venda dentro dele. As integrantes foram numeradas de 1 a 4 e devem andar pela sala, ocupando o espaço sem nunca pisar neste quadrado. Na palma, todas paralisavam. Um número era escolhido para ir até o quadrado. As outras integrantes pegavam algumas fitas para imobilizá-la dentro do quadrado. Outro número era chamado, este tinha que colocar a venda. Com o estímulo de uma música, as duas integrantes restantes usavam as outras fitas para “dançar” a integrante vendada para longe da imobilizada. Elas dançavam até que a música parasse.


Quando a música parava, as duas integrantes afastavam-se bruscamente da pessoa vendada, que tinha que, sozinha e cega, encontrar o quadrado para abraçar sua companheira imobilizada. Quando essas duas figuras se encontravam e o vínculo era estabelecido, as outras duas integrantes as separavam e o jogo começava de novo. Todas passaram pelo papel de imobilizada e de vendada. 
 
A cegueira e o desespero proporcionados pelo exercício nos fez refletir sobre várias coisas, como por exemplo: “Como é passar diversas vezes por si e não se encontrar?”; “O sorriso também aparece nos momentos de solidão?”; “Há alegria no reencontro com um pedaço de si?”
As atrizes também observaram que, quando se é manipulado, é mais fácil memorizar os movimentos do corpo para recriar a trajetória depois. Porém, quando o corpo torna-se ativo e há um objetivo, há também “desmemória”. A obsessão nos cega, nos faz perder os registros.
O terceiro exercício foi uma criação de cena a partir do repertório criado nos exercícios anteriores somado à trajetória de B no texto. O grupo foi dividido em dois subgrupos e cada subgrupo criou uma pequena cena.

I
Atrizes: Camilla Martinez e Lia Maria
Argumento: As duas procuram uma fita específica dentre as fitas coloridas de cetim: A vermelha. Ao conseguir desembaraçar essa fita do resto das outras, uma das atrizes usa esta fita vermelha para vendar a outra.
Impressões: Há um desespero para encontrar o vermelho. O vermelho é usado para cegar. Uma pessoa cega a outra ou a própria pessoa se cega? A cegueira faz com que o corpo vibre.

II
Atrizes: Clarissa Franchi e Raquel Médici
Argumento: As duas vestem as fitas de cetim e dançam, individualmente. A dança torna-se cada vez mais eufórica e essa euforia vira desespero, o que causa uma brusca queda da alegria. Já caídas no chão, as duas não conseguem mais enxergar. Ainda tentam dançar, mas a energia está no fim.
Impressões: A euforia torna-se obsessão que torna-se desespero que torna-se cegueira. Aquilo que diverte é também aquilo que aprisiona. Há uma decadência que permeia essa figura.

Após breve discussão sobre as duas cenas, concluímos que liberdade, prisão, violência, decadência, energia, diversão, memória e manipulação são palavras-chaves para o estudo das lógicas que permeiam B.

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